18/03/2012

Parrhesia

(Sobre um texto de Foucault). Suponhamos que eu sabia uma verdade importante e desconhecida sobre um de vocês. Ou vocês sobre mim, não importa a ordem. Eu poderia destruir-vos e dominar-vos pois teria em mim o poder dessa verdade, bastava-me ser absolutamente franco, dizer tudo (aquilo a que os gregos chamavam parrhesia). Em contrapartida, poderia também assistir-vos e guiar-vos com a vossa mesma verdade de que apenas eu era possuidor. E, no entanto, não era de todo certo que um de vocês, ao perceber que eu conhecia a vossa verdade, quisessem a minha assistência e orientação, ou eu por sinal a vossa; quer dizer, facilmente iriam sentir-se ultrajados e amedrontados por eu conhecer a vossa verdade, ainda que para vosso bem. O que tanto vale para dizer que a amizade entre duas pessoas reclama a verdade - e a assistência recíproca em nome da verdade -, mas é constantemente ameaçada por essa verdade. E receio que não haja nisto grande saída.

12/03/2012

Terceira via

Ou amamos ou nos amigamos, parece que não existem outras alternativas. Mas ainda vamos a tempo de perceber que aquilo que pensávamos ser uma amizade não era mais que uma forma de reverência.

Figura de estilo

Tentei argumentar que amizade é demasiadas vezes apenas um nome conveniente que, faltando-nos melhor, arranjámos para definir outros estados, outras coisas, outras dependências. Assim como uma figura de estilo. Devemos interessar-nos pelo mundo que está para além da amizade se queremos compreender a amizade.